marți, 1 aprilie 2008

Eleatas, Mumford e a tese de que ontologia é política.

STRANGER: I suggest that anything has real being that is so constituted as to posses any sort of power either to affect anything else or to be affected, in however small a degree, by the most insignificant agent, though it be only once. I am proposing as a mark to distinguish real things that they are nothing but power. (The Eleatic stranger from Plato’s Sophist, 247d-e: the Eleatic reality test)

A ontologia das potências nem precisa ter outro princípio de individuação senão elas mesmas. Stephen Mumford defende um pan-disposicionalismo: todas as propriedades são feitas de potências, todos os indivíduos são feitos de potência. Ele quer que exorcizemos uma suposição humeana que dá origem a imagem de um mundo inanimado e coordenado desde fora por leis. Leis são redundantes ou são alheias às potências. Como os poderes: as leis os domesticam, os enquadram, os dissimulam em sua força. A realidade não precisa ser feita de nada senão poderes, potências.

Então talvez ontologia e política possam ser vistas como a mesma coisa...

3 comentarii:

differance spunea...

E se a realidade for feita apenas de deslocamentos?

differance spunea...

o problema é que deslocamentos não são modais. assim colapsamos em uma ontologia humeana (ou megárica, onde só há atualidades, não há possibilidade e nem necessidade).

uma ontologia humeana é uma ontologia do mundo da contingência sem fim e da inanimação completa. deslocamento parece por demais contaminado de atualismo.

differance spunea...

É, eu sei... Acho que por isso falei de seres-em-trânsito e não só de deslocamentos. Tentei resolver o problema com a palavrinha “seres”, mas, ao mesmo tempo, ligando-a com hífens ao “em-trânsito” para também tirar o foco da palavrinha e não deixar que ela vire uma identidade fixa (a minha briga é com as identidades, por causa da violência que elas são capazes de justificar). Não há deslocamento puro, mas “seres” em deslocamento, seres que são possibilidades disso ou daquilo e que, imersos nessas possibilidades, pensam, fazem, se tornam isso ou aquilo e depois ainda se tornam outra coisa (se deslocam sempre). A idéia do deslocamento é que isso ou aquilo não é, de fato, “necessário”, mas “possível” (o “deslocamento”, talvez, seja necessário, mas não “isso” ou “aquilo”). Portanto, não necessidade, mas possibilidade. Detalhe: possibilidade não é contingência! Eu gostaria de ter algo, um ser (ou algo modal), mas um ser que não dá para pegar. Penso, portanto, em seres (ou, se preferir, potências ou algo modal), mas não penso em seres fixos (identidades). Como você bem disse: “por que o que é fixo teria mais privilégios ontológicos?”

Na verdade, quando fiz esse comentário (que você acabou de comentar) ao seu texto, eu estava sofrendo um pouco com a idéia de “potência” que eu só conseguia ler aristotelicamente. Devagar, começo a entender que não é bem isso. Às vezes essa palavra desce redonda, às vezes ainda engasga. Enfim, estou cheia de dúvidas...