duminică, 6 aprilie 2008

O rio e suas margens

Das águas do rio que tudo arrasta dizem ser violentas.
Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.
Bertold Brecht

Esses versos de Brecht expressam uma imagem antiga na tradição ocidental do pensamento, o grande rio do devir do qual falava Heráclito. Porém, aqui está tornado explícito o que talvez no dito de Heráclito permanecia velado, que a impossibilidade de entrar novamente no rio supõe que a fúria das águas, o transcorrer do real num incessante deslize arrastando toda a natureza, toda a física num só movimento, gera uma violência, uma brutalidade. No entanto, aqui, esta violência é contrabalanceada sofrendo de um outro tipo de violência de natureza irredutível a primeira, por não decorrer do mesmo movimento. No meio há o se tornar do mundo que não preserva seja o que for, tudo aquilo que compõe uma determinada situação no próximo instante é arrastado, e de tal forma que tudo aquilo que se quer preservar acaba por ser violentado em sua busca por permanecia. Por outro lado há uma suspeita de que nas bordas do se tornar de todas as coisas, cercando sua brutalidade e força, algo o limita cerceando seu curso. Porém no dizer de Brecht só uma dessas violências é dita como tal, talvez por sermos habituados com as bordas que parecem tão seguras e acolhedoras esquecemos o quão violentos podem ser os limites. A violência das margens, as linhas tortuosas e opressivas das beiras dos rios. Há aí uma politica instaurada entre a borda do rio e suas águas.

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