vineri, 18 aprilie 2008

Política sem identidade

Queridos, a nossa discussão tem avançado muito e em direções muito surpreendentes! Querido Hilan, essa “ontologia dos poderes em fuga” promete muito, muitíssimo! (Amei!!) Você consegue lidar muito bem com os nossos dois calos: a ontologia humeana e a metafísica das identidades, usando uma para desconstruir a outra. Maravilhoso!! Precisamos depois conversar com mais calma e pessoalmente sobre tudo isso. O que escrevo agora é só para acrescentar algo e, talvez, ajudar a desconstruir um ponto que ainda permanece (se de fato estivermos de acordo que ele deva ser desconstruído, mas claro que não precisamos estar de acordo quanto a isso). No meu entender, devemos compreender o caráter político de algumas expressões para depois decidirmos o que fazer com elas. Vou insistir no problema da “identidade”. Sei que partimos de influências (e preferências) filosóficas diferentes – o que, aliás, apenas enriquece a nossa discussão – e, tantas vezes, o que é grave para um, é insignificante para o outro. Pelos menos, até que entendamos o que cada coisa quer dizer. O meu ponto (que quero colocar abertamente em discussão) é o uso dessa idéia de identidade. Eu preferiria (e o que digo agora é apenas a expressão de uma preferência que estou colocando em discussão), realmente, não usar mais essa palavra e, ao invés dela, falar apenas de “singularidade”. Eu preferiria fazer isso por razões políticas. Gostaria de tentar explicar porque isso é tão importante para mim e decidi fazê-lo trazendo um texto de Agamben que, para mim, diz tudo (poderia também usar Lévinas, Vattimo ou Heidegger, mas prefiro Agamben). Podemos refletir um pouco sobre o que o texto diz? Aí vai (não reparem a tradução apressada e pouco cuidadosa):

“Qual pode ser a política da singularidade qualquer, ou seja, de um ser cuja comunidade não é mediada por nenhuma condição de pertença (o ser vermelho, italiano, comunista) nem pela simples ausência de condições (comunidade negativa, como recentemente foi proposta na França por Blanchot), mas pela pertença mesma? (...) Posto que o fato novo da política que vem é que ela não será mais luta pela conquista ou o controle do estado, mas a luta entre o estado e o não-estado (a humanidade), disjunção incolmabile (?) da singularidade qualquer e da organização estatal. Isso não tem nada a ver com a simples revindicação da sociedade contra o estado, que, em anos recentes, tem cada vez mais encontrado expressão nos movimentos de contestação. As singularidades qualquer não podem formar uma societas porque não dispõem de nenhuma identidade para fazer valer, de nenhuma ligação de pertença para fazer reconhecer. Em última instância, de fato, o estado pode reconhecer qualquer revindicação de identidade – até mesmo (a história das relações entre estado e terrorismo no nosso tempo são-lhe uma eloqüente confirmação) aquela de uma identidade estatal no próprio interno [do seu sistema]; mas que das singularidades façamos comunidade sem revindicar uma identidade, que os homens co-pertençam sem uma representável condição de pertença (seja mesmo na forma de um simples pressuposto) – eis isso que o estado não pode em nenhum caso tolerar. Posto que o estado, como mostrou Badiou, não se funda sobre ligação social, da qual seria expressão, mas sobre a sua dissolução, que veta. Por isto, relevante não é nunca a singularidade como tal, mas somente a sua inclusão em uma identidade qualquer (mas que o qualquer mesmo seja tomado sem uma identidade – esta é uma ameaça com a qual o estado não está disposto a pactuar).
Um ser que fosse radicalmente privado de toda identidade representável seria para o estado absolutamente irrelevante. (...)
A singularidade qualquer, que quer apropriar-se da pertença mesma, do seu próprio ser-na-linguagem e declina, por isso, de toda identidade e de toda condição de pertença, é o principal inimigo do estado.”

Portanto – pensei eu – podemos, sim, deixar de levar uma identidade para casa, podemos perder o medo de pensar sem identidades! O que não quer dizer que não tenhamos outro princípio de individuação (concedo isso), como as singularidades ou os poderes ou as potências...

Refleti ainda outra coisa sobre a ontologia dos poderes em fuga. Como foi dito, os poderes podem ser pensados como devires. Ok, tudo bem. Pensei também assim: os poderes “em fuga” (adorei isso!) podem ser pensados como potências que coincidem com o ato (nuvem que perdura, montanha que vacila).

Por enquanto, é isso aí! Muitos, muitos beijos alegres para os meus singulares preferidos!

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Desejo um milhão de sucessos no congresso de jovens filósofos!

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