miercuri, 9 aprilie 2008

Sobre mobílias e rodinhas (ou sobre o rio e as suas margens)

Falamos de seres-em-trânsito em uma micropolítica dos pequenos deslocamentos. Dissemos também que esses seres-em-trânsito não admitem absolutos (macropolíticas ou referências), embora tantas vezes os “exijam” como mote para o deslocamento. Como se dá, afinal, o diálogo polêmico entre a micropolítica dos transeuntes e a macropolítica das referências?

Parece que a pergunta pelo fundamento (macropolíticas e referências) é coisa do pensamento. Então talvez seja algo assim:

As mobílias preenchem bastante o universo. As mobílias também enfeitam o universo. O rio se sabe rio pelas suas margens, assim como a ponte. São as margens que dizem: eis a ponte! Criamos referências, constituímos macropolíticas, defendemos fundamentos. Exigimos absolutos! (?) Para quê? Para transitar... As mobílias se deslocam com as suas rodinhas, o rio corre apesar (e por causa) das suas margens, a ponte não se encerra na sua geometria – construímos pontes para atravessá-las! Queremos o além das pontes, o curso violento das águas, as rodinhas deslocando mobílias (mobílias sem rodinhas são entulhos que nos atrapalham, como malas sem alça). Inventamos o fixo para alcançar o móvel. Construímos casas para sair de casa, carros para neles não ficar, pontes para atravessá-las. E inventamos o que for – jatos, balões, navios, patinetes, cordas, pára-quedas, políticas, fotografias, filosofias, asa delta, receitas, música, bicicletas, antropologias, revoluções, viagens, cinzeiros e sucos de uva – para estar-em-trânsito. Somos transeuntes.

A referência é o mote para o deslocamento. Mas o deslocamento – e isso é o que importa – jamais se detém na referência. Estamos aí em uma ultrapassagem incessante.

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