miercuri, 16 aprilie 2008

E, no entanto, viva Hume

Não sei bem o que Deleuze diz no seu velho livro sobre David, mas há como extrair algumas elementos cruciais para a imanência de sua imagem de propriedades não modais, causalmente estéreis e o mundo como um mosaico. Trata-se de uma imagem semelhante àquela dos furos no guarda-chuva de D. H. Lawrence. Para Hume, o mundo é caos, nós nele projetamos propriedades causalmente ativas, necessidades, possibilia. As propriedades são epifenômenos, não tem o poder de fazer nada, não são senão inertes predicados a serem dispostos de uma maneira ou de outra. Nós precisamos dispô-las conforme a ordem - mas isso é apenas uma necessidade nossa, para Hume (ou para D. H. Lawrence). Eis a imagem do mosaico: um mundo sem necessidades onde combinamos e juxtapomos elementos. Trata-se de um mundo sem transcendência pois a necessidade (e a modalidade, a justificação, a regra moral) é um projeção nossa e nada mais, uma maneira de tornar nossas vidas organizadas. Talvez tenhamos lido Hume sempre com lentes muito kantianas e precisamos lê-lo com lentes mais spinozanas.

Porém sob esse mosaico há os elementos basicos que são objetos (singulares) sem propriedades. É como se o caos fosse também a inanimação. Uma ontologia dos poderes pode ser apresentada assim: um mosaico com peças de quebra-cabeça. Não é que nós ordenamos o caos, é que os elementos do mundo fogem da ordenação, tanto da nossa quanto de qualquer outra. Ou seja, há atividade já nos elementos básicos do mundo - pelo menos a atividade de fugir da ordem. E, ter poderes, não significa obedecer a uma ordem transcendente - poderes são resistências. Podemos ter elementos com poderes e, ainda assim, formando um mosaico aberto nas mãos dos criadores de ordem (ou remendadores de guarda-chuva) que nós supostamente somos.

Un comentariu:

differance spunea...

O máximo essa coisa de uma ontologia de poderes! Na verdade, às vezes acho que estamos mais ou menos dizendo as mesmas coisas, mas de formas diferentes. O que você defendeu como poder é o que eu pensava como micropolítica do deslocamento: a atividade de fugir da ordem! Poderes são resistências! (eu teria dito: os deslocamentos rarefazem a referência).
Quanto a essa coisa do Hume, eu estava justamente pensando: e temos que jogar tudo fora?