luni, 28 aprilie 2008

Metendo o bedelho...

Quebra-cabeças que são mosaicos (e vice-versa), também parques de diversões, contingências que reinventam necessidades...

Tudo isso não apenas em duetos, mas em quintetos, sextetos, infinetos... (Talvez) não “objetos articulados”, mas “singulares em trânsito político” – primadonnas que escorregam e cantam.

(objetos são aquilo que se opõe ao sujeito, são objetos da sua representação no pensamento, objetos são “objetos” para o pensamento: identidades x identidades.)

Podemos pensar sem objetos? Singulares, singulares, singulares...

(singulares não são objetos. singulares não são identidades. singulares jogam entre o quebra-cabeça e o mosaico. singulares escorregam e cantam - em duetos, sextetos...)

duminică, 27 aprilie 2008

Coral de primadonnas

Mosaicos: o que é um universo humeano? Não há modalidades - nem potências e nem conexões necessárias. Por que ele atrai? É um mundo de relações externas: não há nada que transcende a justaposição das coisas. É o cenário para as singularidades que se esbarram e se articulam sem um plano de organização.


Mas o pensamento parece um sintoma das potências e das conexões necessárias. A inteligibilidade é anátema de um mobiliário humeano - os mosaicos são feitos de elementos que, privados, ficam infensos ao que é geral, ao geral pensável. Porém as singularidades não são apenas limitadas pelo pensamento, elas encontram também nele recursos – o pensamento não é apenas uma prisão para as singularidades (o acordo, a exigência de um geral pensado de onde podem aparecer as diferenciações, as articulaçoes prontas), mas também um parque de diversões para elas. Ou seja, não apenas há um quebra-cabeças onde as peças podem ser encaixadas – e por vezes estão grudadas – mas também há a possibilidade de, com as peças, fazermos um mosaico.

O mundo é feito de conexões necessárias, mas não apenas delas. Podemos reagrupá-las de muitas diferentes maneiras – de acordo com as condições em que escorregamos entre elas, transitamos entre elas. As contingências reinventam as necessidades – não se trata de um nível básico de objetos, de matérias primas, mas de objetos articulados, de primadonnas que apenas cantam em duetos...

sâmbătă, 19 aprilie 2008

Mais Agamben...

"Se os homens, ao invés de procurarem, ainda, uma identidade própria na forma já imprópria e insensata da individualidade, conseguisse aderir a essa impropriedade como tal e fazer do próprio ser-assim não uma identidade e uma propriedade individual, mais uma singularidade sem identidade, uma singularidade comum e absolutamente exposta - se os homens pudessem não ser-assim, nesta ou naquela identidade biografica particular, mas ser somente "o" assim, a sua exterioridade singular e o seu vulto, então a humanidade ascenderia, pela primeira vez, a uma comunidade sem pressupostos e sem sujeitos, a uma comunicação que não conheceria mais o incomunicável."

vineri, 18 aprilie 2008

Política sem identidade

Queridos, a nossa discussão tem avançado muito e em direções muito surpreendentes! Querido Hilan, essa “ontologia dos poderes em fuga” promete muito, muitíssimo! (Amei!!) Você consegue lidar muito bem com os nossos dois calos: a ontologia humeana e a metafísica das identidades, usando uma para desconstruir a outra. Maravilhoso!! Precisamos depois conversar com mais calma e pessoalmente sobre tudo isso. O que escrevo agora é só para acrescentar algo e, talvez, ajudar a desconstruir um ponto que ainda permanece (se de fato estivermos de acordo que ele deva ser desconstruído, mas claro que não precisamos estar de acordo quanto a isso). No meu entender, devemos compreender o caráter político de algumas expressões para depois decidirmos o que fazer com elas. Vou insistir no problema da “identidade”. Sei que partimos de influências (e preferências) filosóficas diferentes – o que, aliás, apenas enriquece a nossa discussão – e, tantas vezes, o que é grave para um, é insignificante para o outro. Pelos menos, até que entendamos o que cada coisa quer dizer. O meu ponto (que quero colocar abertamente em discussão) é o uso dessa idéia de identidade. Eu preferiria (e o que digo agora é apenas a expressão de uma preferência que estou colocando em discussão), realmente, não usar mais essa palavra e, ao invés dela, falar apenas de “singularidade”. Eu preferiria fazer isso por razões políticas. Gostaria de tentar explicar porque isso é tão importante para mim e decidi fazê-lo trazendo um texto de Agamben que, para mim, diz tudo (poderia também usar Lévinas, Vattimo ou Heidegger, mas prefiro Agamben). Podemos refletir um pouco sobre o que o texto diz? Aí vai (não reparem a tradução apressada e pouco cuidadosa):

“Qual pode ser a política da singularidade qualquer, ou seja, de um ser cuja comunidade não é mediada por nenhuma condição de pertença (o ser vermelho, italiano, comunista) nem pela simples ausência de condições (comunidade negativa, como recentemente foi proposta na França por Blanchot), mas pela pertença mesma? (...) Posto que o fato novo da política que vem é que ela não será mais luta pela conquista ou o controle do estado, mas a luta entre o estado e o não-estado (a humanidade), disjunção incolmabile (?) da singularidade qualquer e da organização estatal. Isso não tem nada a ver com a simples revindicação da sociedade contra o estado, que, em anos recentes, tem cada vez mais encontrado expressão nos movimentos de contestação. As singularidades qualquer não podem formar uma societas porque não dispõem de nenhuma identidade para fazer valer, de nenhuma ligação de pertença para fazer reconhecer. Em última instância, de fato, o estado pode reconhecer qualquer revindicação de identidade – até mesmo (a história das relações entre estado e terrorismo no nosso tempo são-lhe uma eloqüente confirmação) aquela de uma identidade estatal no próprio interno [do seu sistema]; mas que das singularidades façamos comunidade sem revindicar uma identidade, que os homens co-pertençam sem uma representável condição de pertença (seja mesmo na forma de um simples pressuposto) – eis isso que o estado não pode em nenhum caso tolerar. Posto que o estado, como mostrou Badiou, não se funda sobre ligação social, da qual seria expressão, mas sobre a sua dissolução, que veta. Por isto, relevante não é nunca a singularidade como tal, mas somente a sua inclusão em uma identidade qualquer (mas que o qualquer mesmo seja tomado sem uma identidade – esta é uma ameaça com a qual o estado não está disposto a pactuar).
Um ser que fosse radicalmente privado de toda identidade representável seria para o estado absolutamente irrelevante. (...)
A singularidade qualquer, que quer apropriar-se da pertença mesma, do seu próprio ser-na-linguagem e declina, por isso, de toda identidade e de toda condição de pertença, é o principal inimigo do estado.”

Portanto – pensei eu – podemos, sim, deixar de levar uma identidade para casa, podemos perder o medo de pensar sem identidades! O que não quer dizer que não tenhamos outro princípio de individuação (concedo isso), como as singularidades ou os poderes ou as potências...

Refleti ainda outra coisa sobre a ontologia dos poderes em fuga. Como foi dito, os poderes podem ser pensados como devires. Ok, tudo bem. Pensei também assim: os poderes “em fuga” (adorei isso!) podem ser pensados como potências que coincidem com o ato (nuvem que perdura, montanha que vacila).

Por enquanto, é isso aí! Muitos, muitos beijos alegres para os meus singulares preferidos!

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Desejo um milhão de sucessos no congresso de jovens filósofos!

joi, 17 aprilie 2008

Ontologia de poderes em fuga

Hoje no Raices chegamos a algumas maneiras de pensar uma ontologia de poderes. Poderes não podem ser pensados como tropos (que chamaríamos de poderes tropicais) porque tais poderes não poderiam ser inteligíveis - resolveríamos o problema da diferença a um preço muito baixo, tendo que deixar de levar qualquer identidade para casa. Bem, então aparece o problema das instâncias: são singularidades apenas instâncias de poderes universais? E, se são instâncias, parece que temos que postular substracta, algum tipo de objeto. Então esboçamos uma saída: uma ontologoa de poderes sem objeto. O que é uma singularidade? É um emaranhado de poderes que excede qualquer propriedade a ele atribuida. Bem, mas sem objeto? Sim, a identificação acontece por meio de poderes (que podem ser pensados como devires, que estão sempre fazendo as malas em acontecimentos - e nunca chegando ao ponto final da viagem). Mas a identificação é transeunte: nós também somos parte do plano de pequenos deslocamentos que atualizam indefinidamente os poderes. Trata-se de uma outra maneira de pensar nas singularidades em fuga (um pouco diferente da de Excessos e Exceções): as haecceidades tem poderes para além de suas propriedades. Não é que saímos do âmbito da teoria do fardo, há apenas fardos (fardos de poderes), porém nem todos os poderes do fardo podem ser capturados pelas propriedades.

Uma ontologia de poderes, como sugere mais ou menos a Lus, é humeana no bom sentido: territorializamos os poderes que são o que há. Bem, não é exatamente que propriedades (entendidas como aglomerados ou fardos de poderes) são uma segunda criaçao, ou seja, coisa nossa. Os poderes podem ser pensados em contraste com as propriedades que os territorializam. Mas propriedades não são o único modo de domesticar e disciplinar poderes.

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Em breve vamos fazer uma exposição sobre ontologia e política no congresso espanhol de jovens filósofos. Vamos tentar mostrar uma linha de crescente possibilidade de politização que começa com Hume, passa por Hegel, Wittgenstein, Foucault e termina com Deleuze e Guattari (por enquanto). Vamos ver se cola.

miercuri, 16 aprilie 2008

Mobílias são suas rodinhas (diálogo com “deslocamentos ontológicos?” e com todo o resto)

“que pode ser aquilo
lonjura, no azul, tranqüila?

se nuvem, por que perdura?
montanha,
como vacila?”

(Paulo Leminski)


Parece-me que estamos pensando as relações entre ontologia e política tentando evitar dois problemas: por um lado, o risco de cair em uma ontologia humeana e, por outro lado, o risco de mergulhar em uma metafísica das identidades (ou das presenças). Neste último caso (e esse é o meu ponto particular), a intenção é evitar o problema da violência (não das águas, mas das margens) que a estruturação de uma metafísica de identidades exige para se constituir – fixamos os seres (nós!) em formas que terminam por paralisar o nosso phatos, reduzimos o singular a um geral pensado. Já no primeiro caso (e não estou bem certa se é esse o ponto), o problema parece ser um mundo onde nada mais nos resta senão organizar, pois não há qualquer possibilidade ou necessidade. Nesse mundo das meras atualidades inanimadas, a contingência toma conta de tudo!
Bom, temos ensaiado dois caminhos que em alguns pontos se cruzam (na verdade, nem sei ainda se não acabam dizendo o mesmo) – a ontologia das potências (e dos poderes) e a ontologia dos transeuntes. Eu, particularmente, temo que a ontologia das potências termine desembocando justamente numa metafísica da identidade e, por outro lado, há também o temor de que a ontologia dos transeuntes termine naufragando em uma ontologia humeana. E agora? E agora seguimos em frente experimentando mais um pouco as nossas receitas (e misturando-as também) até isso dar em alguma coisa. Arrisco, então, mais um pouquinho os meus pensamentos (e, por favor, meus queridos parceiros da confraria do pensamento ontológico-político: se desejarem, metam o bedelho sem nenhum pudor!).

Vou tentar esclarecer o meu ponto – os deslocamentos. Eu poderia, talvez, tentar dizer algo diferente: não necessariamente fazer as malas, mas sempre viajar! Não é que estamos sempre de malas prontas para partir e não partimos, mas nós partimos sempre, mesmo sem malas prontas. Melhor: somos a partida. Não somos a possibilidade “de” alguma coisa, mas somos “possibilidade” enquanto tal (potências?). Isso não é mera contingência, mas o nosso ser. Somos “necessariamente” possibilidades, somos “necessariamente” deslocamentos. Somos quem somos. Não há algo que parte e chega a algo (potências aristotélicas que viram ato), não há um antes e um depois (malas prontas para a partida), mas o que “é” (malas) está em acontecimento (partida). Talvez não haja, portanto, rodinhas “nas” mobílias, mas as mobílias “são” as suas rodinhas. Somos a nossa cor, a nossa voz, o nosso rosto (mobílias), mas também não somos a nossa cor, a nossa voz, o nosso rosto (rodinhas ou deslocamentos): tudo ao mesmo tempo agora! (seres-em-trânsito). Isso seria uma ontologia humeana? Não estou bem certa disso. Sim, certamente, falamos de água que escorre pelas mãos, água que escapa entre os dedos, mas, de todo modo, falamos de água!

O que estou tentando pensar, talvez, na verdade, tenha muita influência de Agamben (Lá Communità che Viene). Agamben defende um “ser qualquer”, nem individual, nem universal, mas qualquer. Fala da singularidade pura, sem identidade, um ser-“dentro” um “fora”. Mesmo o pensamento da necessidade e da contingência tenta, o filósofo, superar. No seu livro, diz que “entre o ‘não poder não ser’ que sanciona o decreto da necessidade, e o ‘poder não ser’, que define a vacilante contingência, o mundo finito insinua uma contingência alla seconda potenza.” Para ele, toda potência é, ao mesmo tempo, potência de ser e de não ser, e é da impotência (possibilidade de não ser) que emerge a potência. Mas Agamben defende uma potência que não passa ao ato, que é uma potentia potentiae, não um ser-em-ato, mas uma procura que é uma passividade. Esse é o ponto em que eu discordaria de Agamben. Quero também esse singular qualquer, mas o vejo como um transeunte, como um ser-em-trânsito que, para mim, é justamente o seu elemento político!

Mas o que são potências (para nós)? “Barrigas de nada”, talvez. Mas “barrigas de nada” largadas nos seus lugares? Meras presenças? Se potências coincidem com o ato (talvez a única forma de livrá-las da metafísica aristotélica), então potências não seriam “pequenos deslocamentos”? (foi essa intervenção no blog que me fez aceitar a idéia de potências!). Potências são deslocamentos? Não estamos falando da mesma coisa? E se deslocamentos são potências temos ainda o risco de uma ontologia humeana? E se potências são deslocamentos temos ainda o risco de uma metafisica da identidade? Mas será que podemos mesmo dizer que potências são deslocamentos ou estou forçando a barra? Façam as suas apostas...

E, no entanto, viva Hume

Não sei bem o que Deleuze diz no seu velho livro sobre David, mas há como extrair algumas elementos cruciais para a imanência de sua imagem de propriedades não modais, causalmente estéreis e o mundo como um mosaico. Trata-se de uma imagem semelhante àquela dos furos no guarda-chuva de D. H. Lawrence. Para Hume, o mundo é caos, nós nele projetamos propriedades causalmente ativas, necessidades, possibilia. As propriedades são epifenômenos, não tem o poder de fazer nada, não são senão inertes predicados a serem dispostos de uma maneira ou de outra. Nós precisamos dispô-las conforme a ordem - mas isso é apenas uma necessidade nossa, para Hume (ou para D. H. Lawrence). Eis a imagem do mosaico: um mundo sem necessidades onde combinamos e juxtapomos elementos. Trata-se de um mundo sem transcendência pois a necessidade (e a modalidade, a justificação, a regra moral) é um projeção nossa e nada mais, uma maneira de tornar nossas vidas organizadas. Talvez tenhamos lido Hume sempre com lentes muito kantianas e precisamos lê-lo com lentes mais spinozanas.

Porém sob esse mosaico há os elementos basicos que são objetos (singulares) sem propriedades. É como se o caos fosse também a inanimação. Uma ontologia dos poderes pode ser apresentada assim: um mosaico com peças de quebra-cabeça. Não é que nós ordenamos o caos, é que os elementos do mundo fogem da ordenação, tanto da nossa quanto de qualquer outra. Ou seja, há atividade já nos elementos básicos do mundo - pelo menos a atividade de fugir da ordem. E, ter poderes, não significa obedecer a uma ordem transcendente - poderes são resistências. Podemos ter elementos com poderes e, ainda assim, formando um mosaico aberto nas mãos dos criadores de ordem (ou remendadores de guarda-chuva) que nós supostamente somos.

marți, 15 aprilie 2008

Deslocamentos ontológicos?


Amei a idéia de incluir o ser e o que está solto dele na concepção de deslocamento. Parece que o deslocamento se torna uma potência, um movimento de atualização que nunca precisa ser completa -pode ser como na imagem de Armstrong: sempre fazer as malas, nunca viajar.
Porém não sei se exorcizamos a ontologia humeana. David Lewis propôs uma maneira de entender possibilia: aquilo que é possível, como dizia o velho Leibniz, está em mundos possíveis. Estes mundos possíveis, acrescentou sem pudor Lewis, são tão reais quanto o mundo atual - o mundo atual é apenas este, haec, o mundo apontado por um demonstrativo. E os mundos possíveis mais distantes são menos possíveis dado o mundo atual que apontamos - trata-se de uma geografia da presença onde há que haver uma índice de aqui para que as possibilidades sejam situadas. Trata-se de uma manobra interessante, mas que a comunidade de metafísicos considera uma manobra humeana. Por que? Trata-se de entender a possibilidade - a potência - em termos de relações de semelhança e diferença com outros mundos possíveis. Ao invés de aderir a um megarismo que abraça apenas o mundo atual como real - o que também seria uma alternativa humeana - Lewis entende que uma relação não-modal pode estar na base de todo o pensamento sobre potência.
Bem, poderes. A idéia de que o mundo está prenhe de possibilia é uma tentativa de romper com a inanimação modal do mundo humeano. Como eu disse outro dia, sem matéria-prima ficamos apenas com matérias que são primadonnas. O poder faz conectar aquilo que uma coisa é e aquilo que ela pode provocar - em si mesma e em outras coisas. Podemos pensar nisso em termos de deslocamento, eu suponho: o movimento que está na coisa é que a faz ser. Tudo o que é, é uma receita...

Como livrar os deslocamentos de uma ontologia humeana (em quatro passos)

1. Dê aos deslocamentos um ser (ou se preferir, no lugar do ser, coloque potências)
2. Acrescente ao ser (ou às potências) muitas possibilidades
3. Se desejar – isso depende do seu paladar – acrescente poderes (a gosto)
4. Misture tudo!

Obs: Preste atenção para que os seres ou potências estejam vazios o suficiente para não constituírem identidades.

Advertência: procedimento ainda em fase de experimentação. Se não der certo, tente de novo com outra receita.

duminică, 13 aprilie 2008

Transeuntes

“desconsolada a gesta assim termina?
no fim do fim o que há? o que futura

no ante-início do início e o ilumina?

(...)

sigo um caminho? busco-me na busca?

finjo uma hipótese entre o não e o sim?
remiro-me no espelho do perplexo?
recolho-me por dentro? vou de mim

para fora de mim tacteando o nexo?
observo o paradoxo do outrossim
e do outronão discuto o anjo e o sexo?

O nexo o nexo o nexo o nexo o nex”

(Haroldo de Campos)

sâmbătă, 12 aprilie 2008

Deslocamentos

"Agora só espero a despalavra: a palavra nascida
para o canto – desde os pássaros.
A palavra sem pronúncia, ágrafa.
Quero o som que ainda não deu liga.
Quero o som gotejante das violas de cocho.
A palavra que tenha um aroma ainda cego.
Até antes do murmúrio.
Que fosse nem um risco de voz.
Que só mostrasse a cintilância dos escuros.
A palavra incapaz de ocupar o lugar de uma
imagem.
O antesmente verbal: a despalavra mesmo."

(Manoel de Barros)

joi, 10 aprilie 2008

Ontologias

Talvez possamos não mais falar de ontologia, mas de ontologias (no plural). Abrimos mão, portanto, do Ser, um universal anônimo (ou um geral pensado) que explica, funda ou ilumina o particular. Deparamo-nos, agora, não mais com o Ser, mas com seres(-em-trânsito), singulares imersos em uma rede múltipla de tantos outros singulares – as ontologias.

Os singulares não são Identidades, mas “potências” transientes. As potências, por sua vez, não são Princípios de Individuação, mas modos de deslocamento, saltos no ar, “barrigas (transientes) de nada” em vôo livre. As suas relações são (micro)políticas. A política lhes assalta e atravessa sempre, em pequenos deslocamentos que transformam possibilidades em possibilidades.

Potências são pequenos deslocamentos


miercuri, 9 aprilie 2008

Política e esquecimento do ser

As Políticas (ou macropolíticas) nascem das referências que inventamos ou propomos como melhor modo de estar aí. Porém, a Política, para estar aí, enquanto se afirma referência, precisa se opor ao trânsito dos transeuntes. A Política nada mais é do que o esquecimento do ser transiente. Por isso a Política não pode vingar e as revoluções precisam fracassar – para que sejamos. Que as Políticas sejam superadas pelos pequenos deslocamentos, essa é a nossa (micro)política. Uma política minimalista do trânsito das ontologias.

Sobre mobílias e rodinhas (ou sobre o rio e as suas margens)

Falamos de seres-em-trânsito em uma micropolítica dos pequenos deslocamentos. Dissemos também que esses seres-em-trânsito não admitem absolutos (macropolíticas ou referências), embora tantas vezes os “exijam” como mote para o deslocamento. Como se dá, afinal, o diálogo polêmico entre a micropolítica dos transeuntes e a macropolítica das referências?

Parece que a pergunta pelo fundamento (macropolíticas e referências) é coisa do pensamento. Então talvez seja algo assim:

As mobílias preenchem bastante o universo. As mobílias também enfeitam o universo. O rio se sabe rio pelas suas margens, assim como a ponte. São as margens que dizem: eis a ponte! Criamos referências, constituímos macropolíticas, defendemos fundamentos. Exigimos absolutos! (?) Para quê? Para transitar... As mobílias se deslocam com as suas rodinhas, o rio corre apesar (e por causa) das suas margens, a ponte não se encerra na sua geometria – construímos pontes para atravessá-las! Queremos o além das pontes, o curso violento das águas, as rodinhas deslocando mobílias (mobílias sem rodinhas são entulhos que nos atrapalham, como malas sem alça). Inventamos o fixo para alcançar o móvel. Construímos casas para sair de casa, carros para neles não ficar, pontes para atravessá-las. E inventamos o que for – jatos, balões, navios, patinetes, cordas, pára-quedas, políticas, fotografias, filosofias, asa delta, receitas, música, bicicletas, antropologias, revoluções, viagens, cinzeiros e sucos de uva – para estar-em-trânsito. Somos transeuntes.

A referência é o mote para o deslocamento. Mas o deslocamento – e isso é o que importa – jamais se detém na referência. Estamos aí em uma ultrapassagem incessante.

duminică, 6 aprilie 2008

Passeio breve

Um breve passeio pela cidade de Brasília nos esclarece em que medida a representação está insinuada em nosso cotidiano. Toda a ordenação que em nossa capital ganhou proporções absolutas expressa sozinha a batalha de milênios que a “humanidade” vem travando no intuito de identificar os sujeitos, classificar o sensível por meio de semelhanças, criar oposições de forma negativa e fundar analogamente a distribuição em lotes, sejam eles categorias ou propriedades, tudo aquilo que é, ou seja, “levar o idêntico a reinar sobre o próprio infinito e de fazer com que o infinito seja penetrado pela continuidade de semelhança, pela relação de analogia e pela oposição de predicados”. Nesse breve passeio encontramos as largas avenidas , as Super-Quadras ternamente pavimentadas e arborizadas tal um imenso jardim. Toda a setorização cindindo os diversos âmbitos do processo social em seus lotes específicos. E, se estendermos nosso passeio até as cidades ditas “satélites” encontraremos de certo a oposição centro/periferia que obviamente não é privilégio de Brasília. Todavia, apesar da ordem se restabelecer a cada novo dia, ao passarmos pelos largos eixos que cruzam a cidade, notamos que seu asfalto está há muito fragilizado pelos diversos recapeamentos, as calçadas de pedestres não param de ceder ante à grama e as plantas “antiplatoniáceas” que rigorosamente fendem sua dureza de concreto. E se nosso passeio se torna o passeio de um esquizofrênico, então, será impossível não perceber por detrás de toda dissimulação urbana a força irascível do cerrado que ora explode num pé-de-pau retorcido e seco numa entre-quadra e ora faz proliferar os calangos e outras criaturas rastejantes que se insinuam entre as frestas do concreto, sem nunca se deixar dominar inteiramente. Todo esse perceber das fragilidades na organização que, em geral, leva os puristas e adoradores da ordem estabelecida de todas as tendências politicas, messiânicas e integristas a exigirem por mais ordem! Mais ordenação! São, na verdade, as extravagâncias de um substratum que não se permite ordenar, uma tendência, por assim dizer, da própria vida a romper toda e qualquer barreira, ou melhor, de ser o próprio incapturável sobre o qual a representação incide no seu ímpeto ordenador e classificatório, onde “as oscilações do Idêntico em relação a uma matéria sempre rebelde, cujo o excesso e deficiência ele ora rejeita ora integra” indica uma batalha em curso, silenciosa batalha entre nossas representações e aquilo que nunca se deixa capturar por completo. Identidade, semelhança, oposição e analogia, as quatro raízes da representação (ilusões transcendentais) que traem o que se difere sem cessar. Poderíamos falar de dois planos superpostos, o Plano-Piloto e o Plano de Imanência, mas provavelmente deveríamos falar de múltiplos planos, em cada um deles haverá sempre vários planos, não só os planos da ordem com seus tentáculos armados, mas também os exuberantes planos da vida.
Abaixo o Plano-Piloto, viva o Plano de Imanência!!!

O rio e suas margens

Das águas do rio que tudo arrasta dizem ser violentas.
Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.
Bertold Brecht

Esses versos de Brecht expressam uma imagem antiga na tradição ocidental do pensamento, o grande rio do devir do qual falava Heráclito. Porém, aqui está tornado explícito o que talvez no dito de Heráclito permanecia velado, que a impossibilidade de entrar novamente no rio supõe que a fúria das águas, o transcorrer do real num incessante deslize arrastando toda a natureza, toda a física num só movimento, gera uma violência, uma brutalidade. No entanto, aqui, esta violência é contrabalanceada sofrendo de um outro tipo de violência de natureza irredutível a primeira, por não decorrer do mesmo movimento. No meio há o se tornar do mundo que não preserva seja o que for, tudo aquilo que compõe uma determinada situação no próximo instante é arrastado, e de tal forma que tudo aquilo que se quer preservar acaba por ser violentado em sua busca por permanecia. Por outro lado há uma suspeita de que nas bordas do se tornar de todas as coisas, cercando sua brutalidade e força, algo o limita cerceando seu curso. Porém no dizer de Brecht só uma dessas violências é dita como tal, talvez por sermos habituados com as bordas que parecem tão seguras e acolhedoras esquecemos o quão violentos podem ser os limites. A violência das margens, as linhas tortuosas e opressivas das beiras dos rios. Há aí uma politica instaurada entre a borda do rio e suas águas.

vineri, 4 aprilie 2008

O universo não tem mobília, mas tem rodinhas com pequenos deslocamentos

Estou botando muita fé neste blog. O tema da transitoriedade em oposição às presenças me entusiasma - pensar mais em rodinhas, menos em mobília. Pensar mais em termos de deslocamentos e de dobras do que em termos de baldrames e de pontos de apoio. Nem que trata-se de um quebra-cabeça nem de um prédio pronto com garagem e cobertura - mas de um terreiro onde todos os santos encorporam e desemcorporam. Porém acho que também não se trata de um mosaico: há muito mais do que um pouco disso e mais aquilo. E nem é que muita coisa é, é que tudo está inchado de possibilia, de potência, de poderes. Não há pedrinhas inertes, matéria prima: toda matéria é primadona.

Potências: por toda parte potências que repousam em outras potências. Como disse Armstrong uma vez: potência que chega ao ato mas sempre já de malas prontas para a próxima viagem. Potências estão inseridas no meio das coisas - as barrigas de nada que têm todos os entes. Ando me sentindo pan-disposicionalista: poderes, poderes, poderes e nenhuma determinação estável que sirva de berço explêndido para as possibilia. Potentia: por que aquilo que tem um apoio fixo teria mais direitos ontológicos?

A ontologia que resta

“Quero forças para o salto
do abismo onde me encontro
ao hiato onde me falto.”
(Paulo Leminski)


Na ontologia sem metafísica de Heidegger, o ser deixou de ser substância, substantivo, presença e desvelou-se como verbo, acontecimento, evento, um inapreensível fundamento nulo, o sem fundo de um abismo cujo véu é o nada. Pela primeira vez o ser “não é”. Esse âmbito do negativo – o inapreensível, o indizível, o sem fundo abissal – será superado em Agamben, para quem o ser é aquele que pronunciamos e precisamos pronunciar (por questões políticas!), todavia, sem que o fixemos na palavra. Agamben fala do “ser qualquer” ou da singularidade qualquer, o vulto. Mas será com Deleuze que a ontologia será completamente desconstruída em uma dança de devires, linhas de fuga, velocidades e rizoma, onde o ser já não encontra mais nenhum lugar. Atônitos, perguntamos então: depois de Heidegger, Agamben e Deleuze, podemos ainda falar de ontologia? Que ontologia nos resta?
Em meio a todas essas desconstruções, ainda “somos”. Mas quem somos? Talvez nada além daquilo que essas mesmas filosofias, cada qual a seu modo, testemunham – seres-em-trânsito. Somos uma tonalidade qualquer, um phatos, em pequenos deslocamentos. Não estamos, de fato, em nenhum lugar: somos os de todos os lugares. Somos, também e ao mesmo tempo, os de lugar nenhum. Estamos aí. A esse transiente acontece, na sua lida com as coisas, a procura e a instituição de referências (macropolíticas e fundamentos), mas sem que se reduza a nenhuma delas. O ser transiente é aquele que não admite absolutos, embora, tantas vezes, os exija (provisoriamente) como mote para o deslocamento.
Não estamos falando desse ou daquele devir, mas do “território” onde os devires acontecem, do “entre”. Não importa qual devir, importa o entremeio, o espaço aberto inconcluso. O entre não é uma estrutura metafísica que será preenchida pelo devir, mas aberturas dissolutas em possibilidades não necessariamente constituídas. Portanto, o entre não remete a esse ou aquele lugar, mas ao “trânsito”, o entre é o deslocamento ou o prenúncio dos deslocamentos. Falamos de uma abertura de possibilidades preenchidas, preenchíveis ou não, de devires que devém ou não, um entre que não se dá entre dois pólos ou referências, mas uma ponte sem margens, seres-em-trânsito. Os transeuntes sem dúvida não são nada além do próprio devir, mas também os transeuntes não “são” o próprio devir – os transeuntes: esses seres em trânsito, esses seres em deslocamento, os de todos os lugares e os de lugar nenhum.
A ontologia que resta é uma “ontologia transiente”. Uma ontologia também das multiplicidades, das diferenças, das alteridades, das singularidades, uma ontologia sem identidades. Uma ontologia em que ética e política se misturam. Essa ontologia não é mais superior à ética e à política como aspirava Aristóteles, mas tampouco a política e a ética são superiores à ontologia, como desejavam Arendt e Lévinas. Não existe mais filosofia primeira! Queremos pensar uma ontologia dos transeuntes, na qual ser e política necessariamente se confundem e onde a rarefação enfraquece a referência.

marți, 1 aprilie 2008

Por uma ontologia micropolítica dos transeuntes

“(...) arrisco crer ter atingido um horizonte longamente almejado: a abolição (não da realidade, evidentemente) da referência, através da rarefação.”
(Paulo Leminski)

Toda ontologia é política, queiramos ou não. A ontologia conduz ou orienta a nossa compreensão e a nossa lida com as coisas e, enquanto tal, é invariavelmente política. Porém, as ontologias são muitas. De ontologias mais metafísicas, nascem pensamentos éticos e políticos também mais metafísicos. Portanto, a questão não é se há ligação entre ontologia e política, mas qual política (ou ontologia) queremos fazer. Uma perspectiva: é possível pensar uma ontologia menos metafísica e, portanto, uma ontologia da não violência? O que seria uma ontologia que escapasse ao totalitarismo do pensamento tal como o entende, por exemplo, Heidegger, Lévinas ou Vattimo? Seria possível uma ontologia sem estruturas metafísicas que comumente fundamentam o conhecimento e legitimam a manipulação e o controle do real?
O nosso desafio é pensar uma ontologia política que escape do discurso sobre o fundamento, o discurso sobre o “princípio geral” ou sobre a “síntese universal” que termina por anular o singular na sua alteridade. Essa é a questão que desejamos explorar até as suas últimas conseqüências, mas por um caminho particular: não precisamos continuar sobre a velha e sempre atual discussão acerca da superação da metafísica iniciada por Nietzsche e desenvolvida por Heidegger e Derrida, mas pretendemos partir desse ambiente discursivo já acontecido e, com essa herança, pensar a própria questão a partir de outro horizonte – não mais a metafísica, mas o nosso ser e estar político no mundo. A superação da metafísica permanece não como figura central da nossa reflexão, mas como fundo ou solo que sustenta e alimenta o nosso filosofar.
Imersos nesse ambiente reflexivo, enfrentamos a questão: “o polemos pode ser uma categoria política que mostra ontologias?” Surge uma primeira inquietação: não deveríamos, antes de tudo, evitar pensar em termos de “categoria” política? Uma categoria é uma concepção genérica que categoriza uma experiência que queremos preservar como singular e, portanto, não passível de categorização. Fazer do polemos uma “categoria” pode significar a aniquilação do seu sentido, ou seja, a eliminação do inquieto embate que constitui a sua força, pela imposição identitária que uma formulação filosófica como “categoria” exige. O que aconteceria se, ao invés de “categoria” política, pensássemos em “pathos” político?
O phatos não é uma “categoria”, mas uma tonalidade como, por exemplo, o espanto, o phatos filosófico dos primeiros pensadores gregos. Podemos ainda ir além: e se ao invés de questionarmos se o polemos poderia ser uma “categoria” política que “mostra” ontologias, perguntássemos se o polemos poderia ser o pathos político que diz respeito ao próprio acontecimento das ontologias? Poderíamos, portanto, pensar assim: polemos = ontologias. O polemos pode ser entendido não mais como uma “categoria que mostra” mas como um phatos que é.
O nosso esforço tem o intuito de evitar o discurso sobre o fundamento que conduz, entre outras coisas, às políticas de identidade e que, por sua vez, remetem ao problema da violência, como já mencionamos (o polemos, pensado como “categoria” política, não poderia assumir esse caráter?). Evitar o discurso sobre o fundamento não significa, em absoluto, negar o fundamento (pois talvez o nosso pensamento o exija), mas significa não fazer uso dele ou, pelo menos, não deixá-lo ocupar o centro da nossa reflexão – passamos pela borda da questão, seguimos distraídos.
Um caminho nos é apontado por Agamben que, em “La comunità che viene”, sustenta que basta um pequeno deslocamento para que venha o “novo reino”. Assim, ao invés de fundamentos ocupando o centro do pensamento, podemos pensar em pequenos deslocamentos. Falamos, então, de pequenos deslocamentos de um modo de ser “em trânsito” que tem como phatos a polis ou o ambiente político no seu polemos. Dessa forma, a polis deixa de ser uma soma de indivíduos políticos ou um aglomerado de seres organizados em prol desse ou daquele fim social (fundamento), para significar um embate de forças que compõem o próprio corpo político a partir das diferenças mesmas – ou das ontologias – sem, contudo, absolutizá-las em Políticas, de identidade (tão em moda ultimamente) ou quaisquer outras.
Pensamos, portanto, em modos de ser cujo phatos político consiste em pequenos deslocamentos, não em revoluções (as revoluções pretendem substituir algo por algo, ou seja, as revoluções discutem o fundamento – elas têm a verdade! Mas é a verdade que deve orientar o nosso existir político? Tantas, tantas vezes: verdade = violência). Os pequenos deslocamentos convivem em uma dança em que se integram e se excluem mutuamente – somos seres políticos em trânsito; somos transientes em um diálogo polêmico. O que seria uma ontologia do transiente político, daquele dos pequenos deslocamentos não fundacionais nem revolucionários, mas que assume o polemos ou a polêmica das ontologias como o seu estar no mundo? Provavelmente, a essa ontologia transiente não interessa o sucesso ou o fracasso, as ideologias ou as revoluções, mas apenas o estar-em-trânsito, pois é esta a condição dos pequenos deslocamentos que abrem, fecham e voltam a abrir múltiplas possibilidades.
Contudo não sugerimos, como se poderia supor, um estar-em-trânsito desinteressado e frívolo devido à transitoriedade das múltiplas possibilidades, mas, pelo contrário, apontamos para deslocamentos interessados, todavia, distraídos do princípio do fundamento. Remetemos o nosso pensamento aos pequenos deslocamentos tantas vezes aparentemente solitários ou isolados – na verdade singulares – mas que tecem uma rede de ontologias em uma política minimalista, uma política em que os elementos do seu próprio acontecimento se repetem com discretas variações polêmicas que dão o tom lento e rarefeito das transformações em trânsito – a ontologia micropolítica dos transeuntes.
Os pequenos deslocamentos de seres-em-trânsito nos fazem ver que a ontologia é política. Para a transformação e para a emergência do novo na sua diferença singular singularíssima – nunca isolada, mas sempre em uma rede de ontologias e, por isto, necessariamente política – nada mais necessitamos do que pequenos deslocamentos que, pela sua aparente insignificância, são incapazes de constituírem identidades. Que desse phatos político surjam, invariavelmente, Políticas (ou macropolíticas), é outra discussão que precisamos ainda empreender. De toda sorte, se esses pequenos deslocamentos refletirem a nossa ontologia, as macropolíticas sucumbirão constantemente ao frêmito do nosso phatos ontológico-político-polêmico ou, o que quer dizer o mesmo, ao frêmito da micropolítica dos transeuntes, em uma incessante descontrução não intencionada, mas essencial, ainda que se dê de forma contingente.

A somehow different version of the principles of a non-fascist ontology

Free ontology from all unitary and totalizing paranoia.

Ontology has room for proliferation, juxtaposition, and disjunction, it is composed by relations between powers and not a hierarchy of realms

Withdraw allegiance from the old categories of the Negative (law limit, castration, lack, lacuna, parsimony, reduction, irrelevance), which Western thought has long held sacred as a form of access to reality. Prefer what is positive and multiple: difference over uniformity, flows over unities, mobile arrangements over systems. Believe that what is in your ontology is to be productive and not sedentary but nomadic. The Ockham’s razor can cut one’s head off: the superfluous is the mark of powers to come.

Do not think that the world has to be grey to be understood, even though there are grey and bleak parts of the world. They should not be what is there to be matched. It is the connection of desire to reality (and not its retreat into the forms of representation) that possesses revolutionary force.

Do not use thought to shepherd ontology – thought is part of it.

Do not demand of individuals out of your ontology. Any singularity could become an established order; they are all passing singularities. Wholes are constantly dissolving and recreating singularities.

Don’t think of the world as made of dominions, with borders that could be controlled.

Eleatas, Mumford e a tese de que ontologia é política.

STRANGER: I suggest that anything has real being that is so constituted as to posses any sort of power either to affect anything else or to be affected, in however small a degree, by the most insignificant agent, though it be only once. I am proposing as a mark to distinguish real things that they are nothing but power. (The Eleatic stranger from Plato’s Sophist, 247d-e: the Eleatic reality test)

A ontologia das potências nem precisa ter outro princípio de individuação senão elas mesmas. Stephen Mumford defende um pan-disposicionalismo: todas as propriedades são feitas de potências, todos os indivíduos são feitos de potência. Ele quer que exorcizemos uma suposição humeana que dá origem a imagem de um mundo inanimado e coordenado desde fora por leis. Leis são redundantes ou são alheias às potências. Como os poderes: as leis os domesticam, os enquadram, os dissimulam em sua força. A realidade não precisa ser feita de nada senão poderes, potências.

Então talvez ontologia e política possam ser vistas como a mesma coisa...