miercuri, 14 mai 2008

Sobre o pathos guerreiro e o devir revolucionário (algumas questões)

O espanto era o pathos filosófico dos primeiros pensadores. Para Heidegger, isso quer dizer que, diante do fato das coisas serem assim, detemo-nos e retrocedemos ao mesmo tempo em que sentimo-nos fascinados e tomados pelo seu ser assim. É pelo espanto que o ser do ente se mostra aos filósofos gregos. Para o Leonel, como sugeriu na nossa última conversa, isso induz talvez a uma atitude meramente contemplativa e, agora penso eu, talvez por isso Aristóteles, por exemplo, pode separar a metafísica das filosofias práticas, e afirmá-la superior.

Mas para Heidegger, esse pathos filosófico se transforma na modernidade. Do espanto, com Descartes, o novo pathos passa a ser a certeza, pois a dúvida cartesiana é o acordo com a certeza. Nas palavras de Heidegger, “a disposição afetiva na confiança na absoluta certeza do conhecimento a cada momento acessível permanece o pathos e com isso a arké da filosofia moderna” (O que é isto – a filosofia?). Daí tiramos outras conseqüências: os entes tratados como objetos para sujeitos que os conhecem, entes que podem ser manipulados e reduzidos ao cálculo para garantir o conhecimento absoluto. Outras conseqüências: Leibniz e elaboração explícita do principio do fundamento magno e absoluto, Kant e o seu sujeito constitutivo, o iluminismo, o humanismo, a ciência, a técnica... Seja como for: agora falamos de objetos entre objetos, objetos que precisamos controlar.

Leonel agora nos sugere outro pathos, um pathos para o nosso tempo: o pathos do guerreiro que luta incessantemente contra o transcendental (como o Estado), problematizando e afirmando o polemos. O que se abre com esse novo pathos? As filosofias do múltiplo, da alteridade, da desconstrução? O pensamento fragmentário e fragmentado? O trânsito? As puras potências? Uma filosofia dos poderes?

O que é o pathos do guerreiro? É um devir revolucionário? (em “conversações”, Deleuze defende o devir revolucionário enquanto critica a revolução) Ou, nas palavras do Leonel, um “devir guerreiro”? Um devir guerreiro talvez não seja exatamente um devir revolucionário. Poderíamos explorar um pouco os encontros e desencontros entre o pathos guerreiro e devir revolucionário? Tenho a intuição que ambos, embora possam dialogar, não dizem exatamente a mesma coisa...

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