miercuri, 7 mai 2008

Metendo o bedelho II (precipitado, impulsivo e quase arrependido...)


Tudo isso é muito genial, genial mesmo! Mas fico sempre com uma inquietação que não sei bem dizer qual é. Deve ser algo assim: resistir ao máximo para não fazer do singular um geral pensado. Cuidar para não trair o que queremos preservar. Quero um pensamento da resistência, um pensamento político, melhor ainda, uma política do pensamento! O transcendental me cheira à metafísica (entendida como aquela estrutura que subsume o particular), mesmo se imanente (não sei se encontramos transcendentais na vida...). Para Agamben (não entendi se ele defende “uma vida...” como um transcendental, mas pelo menos parece que Deleuze o faz), sem dúvida, esse não é o caso. Agamben, em uma brilhante crítica a Heidegger, disse que o solo da metafísica é a negatividade – o indizível, o inapreensível etc. É assim desde Platão e a sua idéia de Bem como um “além do ser”. Também o ser de Heidegger, que “não é”, seria a condição de possibilidade da metafísica (e não, como pretendeu o filósofo, a sua superação!): é o âmbito do negativo que exige a metafísica, pois é aquilo que escapa à ordem que acaba exigindo o acontecimento da ordem metafísica. Realmente brilhante!!Mas a metafísica se explica apenas por esse negativo? Basta deixar tudo às claras para não se ter mais metafísica? Nisso estou com Lévinas, para quem o pensamento da totalidade (que ele não chama de metafísica) é "qualquer" geral pensado que se impõe à alteridade e implica sempre violência.

Para mim, talvez (e um talvez muito trêmulo e vacilante), a saída seja não consentir mais nenhum transcendental e sem que, para isto, tenhamos que recorrer a uma ontologia humeana (quero o impossível?). Para evitar o transcendental, o singular (e porque, seja como for, falamos de “um singular” que de fato se dá, não estamos numa ontologia humeana) precisa ser desconstruído imediatamente enquanto se propõe, o que pode ser feito se o singular for igual a deslocamentos ou se o singular for potência que não vira ato, potência pura, como para Agamben. Mas potências puras não precisam ser lidas como “transcendentais”, mas podem ser lidas como “possibilidades” ou até mesmo “meras possibilidades” (que não são transcendentais): portanto, não mais “estruturas” (ainda que esvaziadas de metafísica ou absolutamente imanentes), mas “aberturas” possíveis que não constituem identidades (e isso eu aprendi com Heidegger). Voltamos a falar do inapreensível? Não conseguimos pegar? Caímos novamente na negatividade que conduz à metafísica? Talvez não, se o singular for pura exterioridade... (retorna o fantasma humeano?).

PS1: como “apontar” para um singular? Fazendo uma salada agambiana, gosto de algo um pouco mais minimalista como "um qualquer...". “Um qualquer” não é um transcendental, nem mesmo um transcendental empírico. Um qualquer é qualquer um.
PS 2: Será que filosofar é sempre pensar o transcendental? A filosofia dá conta do singular singularíssimo? Ou precisamos afirmar o seu limite e nos voltarmos para a poesia?
PS 3: Não concordo que haja transcendência em Heidegger, como defende Agamben. Na minha interpretação, Heidegger fez, justamente, uma ontologia da imanência (essa é a sua genialidade!) e pode jogar tranquilamente (guardadas as devidas proporções) no time de Deleuze (Deleuze, sem dúvida, é mais radical, pois supera o pensamento binário que permanece em Heidegger).
PS4: (não tenho esse texto de Agamben, “a imanência absoluta”. Procurei e o livro está esgotado... Depois você me consegue uma cópia? Quero entender melhor esse negócio de uma vida... que parece realmente fascinante! E de Deleuze, não é?)
PS5: Será que eu entendi alguma coisa? Ou fiz uma grande confusão? Oh, dúvida fatal! (alguém pode me salvar das irremediáveis e inevitáveis idas e vindas do pensamento e do existir? Sinto que fracassarei...) “E agora que fazer com essa manhã desabrochada a pássaros?” (como diria Manoel de Barros).
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