sâmbătă, 31 mai 2008

Elogio da vertigem III

“Mas a imanência não está ameaçada somente por essa ilusão da transcendência, que gostaria de obrigá-la a sair de si e a vomitar o transcendente; ou, antes, essa ilusão é algo como uma ilusão necessária no sentido de Kant, que a própria imanência gera do seu interior e na qual todo filósofo cai quanto mais procura aderir intimamente ao plano da imanência. A exigência irrenunciável do pensamento é também a tarefa mais difícil, em que o filósofo a cada instante corre o risco de perder-se. Sendo o ‘movimento do infinito’, para além do qual não há nada, a imanência é desprovida de qualquer ponto fixo e de todo horizonte que poderia permitir a orientação: ‘o movimento capturou tudo’ e o único oriente possível é a vertigem em que dentro e fora, imanência e transcendência incessantemente se confundem. Que Deleuze se choque aqui contra algo como um ponto-limite está testemunhado pela passagem em que o plano de imanência se apresenta juntamente com aquilo que deve ser pensado e com aquilo que não pode ser pensado: ‘Talvez este seja o gesto supremo da filosofia: não tanto pensar o plano de imanência, mas mostrar que ele está lá, não pensado, em cada plano. Pensá-lo dessa maneira, como o fora e o dentro do pensamento, o fora não exterior e o dentro não interior.’”

(Agamben, A imanência absoluta)

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