luni, 21 iulie 2008

Por um Nietzsche não humeano

Gostaria de poder defender algo assim: não importa a coisa, mas o fluxo. Não queremos verdades para capturar e controlar (“tirem-me daqui a metafísica!”). Não importa se há mentiras sobrepostas sobre o mundo, importa que dancem, que façam fluxo (política!). Nietzsche talvez não seja humeano. Talvez não negue a verdade, mas a compreenda de outro modo. Verdade é outra coisa, diferente de um fato constatável, diferente de certeza epistemológica (ou mesmo existencial). Verdade é interpretação. Subjetivismo? Não, interpretação! Leitura possível "da coisa", perspectiva, individuação de um caminho na multiplicidade de possibilidades (mas ninguém inventa a coisa ou a multiplicidade!). As coisas estão aí, mas não como verdades engessadas.
Heidegger tem uma compreensão bonita da verdade que ele tira dos gregos: alétheia, onde o “a” privativo traz o sentido de não-esquecimento, não-velamento. Todavia, abarca o próprio velamento como um momento seu, um momento que acontece junto. Então, temos o seguinte: um jogo inconcluso de luz e sombra, algo que tocamos e perdemos, velamento e desvelamento contínuos. Ganhamos e perdemos o ser incessantemente!
Uma verdade assim compreendida não importa apreender ou controlar. Não importa a coisa, mas o jogo. E se esse jogo for transformador para o nosso tempo, essa é a nossa política. Porque verdade é possibilidade e não fato. Verdade é jogo. Não falamos de subjetivismo nem de arbitrariedade. Inspirados por Aristóteles, diríamos que é algo mais ou menos assim: “o ser se diz de muitos modos”. Então, julguemos as narrativas pelos efeitos de solidariedade! (e por que não?)

Como escapar do fantasma metafísico que nos diz que podemos encontrar o fundamento último (ou primeiro), conhecer (capturar) e manipular o real? Como bem nos ensinou Lévinas, aqui está a origem de muita violência...

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