sâmbătă, 16 august 2008

Toda onotologia é política. Mas, qual política?

Toda ontologia é política, mesmo uma ontologia das potências simplesmente. A ontologia de Aristóteles era política, também a de Platão. O ponto é: qual ontologia (qual política!) queremos? A ontologia das potências pode ser uma ontologia fascista (o que é uma ontologia política a seu modo) se a ela não brindarmos com deslocamentos (ou devires ou pistaches descascados...).

Isso eu aprendi com Heidegger: destituir as ontologias de qualquer substância ou de qualquer coisa que lembre substância, como potências. Fazer da ontologia uma ontologia "de relação", uma ontologia do "entre" (ou de trânsito entre as coisas), um ser que se projeta: não apenas ser, mas ser-com, ser-em , ser-para.... O ser só é ser nesse "com", nesse "em", nesse "para". Não é lindo? Não temos mais identidades! (Lévinas interpretou isso muito mal!).

Por isso gosto de falar de deslocamentos mais do que de potências. Mas esse não é o único caminho, certamente. Tudo depende de como pensamos as potências. Precisamos pensar as potências de forma não fascista. Precisamos deslocar as potências dos seus lugares, não deixar que sejam elas mesmas para sempre, descascar pistaches e descobrir outras, outras cores... Potências são potências em trânsito, ou aquelas que se constituem e se destituem no trânsito.

Uma ontologia não fascista!

miercuri, 13 august 2008

Excessos e excecoes como exemplo de... (ou em defesa dos pequenos deslocamentos)

Últimos da longa conversa de quatro meses com o Manuel. O tema da atualidade (um problema para quem acredita que o mundo é uma colecao de disposicoes) se imbrinca com o tema da singularidade. Estamos de volta aos prolegomenos a toda ontologia futura que venha antes ou depois de uma politica. Porque nao basta ser ontologia de potencias - nao basta fazer uma declaracao de intencoes nao-humeanas ou manter a fascinacao com mosaicos apenas de soslaio.
Uma ontologia das potencias pode ser uma ontologia de fardos (e de instancias que se indiscerniveis sao identicas). Pode ser uma ontologia fascista.
Sim, há as diretivas: como escapar disso. Mas estivemos pensando em um fator Nietzscheano em algumas ontologias que nao sao meras articulacoes de categorias - o fator que Lévinas deixa explícito. Qual é o fator que faz a diferenca? Um entrecategorial, um atencao ao sincategorema desviante, uma ontologia de mais de um plano. As ontologias (de potências) das tradicoes analiticas nao sao nietzscheanas. Nao se pode falar que o que falta é o movimento: nenhuma ontologia pode ser alérgica ao quadridimensionalismo. Talvez o devir. Talvez os pequenos deslocamentos (tipo pistaches sendo descascados): deslocamentos categoriais, pequenos nas dimesoes dos ajustes que os olhos fazem para enxergar o claro e o escuro.

duminică, 10 august 2008

Elogio do insucesso

" É preciso desesperar a esperança
como um balde no mar."

"(...) até poder elevar-me
com a força de outras asas
para os meus próprios lugares"

(Carlos Nejar, Contra a esperança e Os senhores da ocasião e da guerra)

Singular é o que fracassa...

Gostaria de escrever uma espécie de “elogio do insucesso”, um ensaio sobre a periculosidade e a superação do absoluto no pensamento (e na existência). Um ensaio (ou um livrinho, ou uma parte do nosso livrinho) sobre des-locamentos, uma já anunciada ontologia micropolítica dos transeuntes. Não estamos em uma perspectiva pessimista, mas em uma descontrução ético-política. O insucesso como forma de superação da violência e, portanto, de celebração do singular. Singular não é (apenas) aquele que constrói, mas (fundamentalmente) aquele que fracassa. Fracassa em quê? Nos absolutos tantas vezes amados como caminhos definitivos. Proponho o insucesso como forma de superação da violência ( esta sempre entendida em sentido levinasiano): caminhos sempre trilhados e desconstruídos que se desabsolutizam e abrem novas possibilidades – territorialização e des-territorialização em um diálogo polêmico. Acreditar é importante, move o mundo. Fracassar é fundamental, livra os singulares do totalitarismo das verdades. Um caminho só é real se for superado. Algo então permanece e transforma, sem violência. O fracasso é a abertura para a criatividade e o novo. No fim, resta a singularidade, no meio de tudo, sobrevivente. Somos “andarilhos intelectuais” (e existenciais!), salvamo-nos no trânsito. O que sucumbe não é a existência ou a coisa, mas o caráter absoluto da existência e da coisa que paralisa existência e coisa. Não falo da simples desconstrução decidida por motivos racionais, mas da derrocada de algo que verdadeiramente se amou. Só há fracasso onde outrora houve verdade. Só o que amamos como absoluto pode fracassar. O fracasso é aquilo que pode fazer frente à violência do absoluto. O fracasso (ou os pequenos deslocamentos) são a nossa micropolítica...

sâmbătă, 9 august 2008

Pequenos deslocamentos com casca, sem casca

Um filminho em homenagem a algumas das idéias mais crocantes da Lus:

http://br.youtube.com/watch?v=pXrPQWe3PvA

vineri, 8 august 2008

Potências, singularidades e exceções

Hoje escrevemos uma seção do artiguinho em que dizemos: uma ontologia das potências pode ser haecceitista, pode encontrar espaço para singularidades. Logo eu disse, sim, mas é um haecceitismo feio e as singularidades não ficam necessárias, são no máximo contingentes: um item é singular porque no mundo não há nada com as mesmas potências pois o mundo todo determina as potências do item. Claro, um haecceitismo leibniziano - e fincado em uma teoria do fardo.
Bernard Williams cativou nossos coraçoes dizendo (em Ethics and the Limits of Philosophy) que se uma pessoa delibera com base em virtudes (eu quero ser corajosa e portanto vou fazer isso e aquilo...) sua ação fica excessivamente de terceira pessoa. Árduo, seria preciso que a coragem estivesse atrás da cena da deliberação. Pensei: assim também com as singularidades em fuga entendidas em termos de potências - elas ficam com seu veneno (a flecha para onde a linha de fuga aponta) tornado em análise química. Não queremos dizer que uma análise das singularidades em termos de potências é excessivamente de terceira pessoa - afinal não se trata de sujeitos, a filosofia já ficou tempo demais analisando singularidade em termos de sujeitos, peculiaridade em termos de autonomia. Mas há alguma coisa aí: uma flecha não pode ser analisada só em termos de sua direção, por melhor que seja a análise. Tem que haver alguma coisa que escapa na flecha. No grande esquema das coisas uma desterritorialização precede uma reterritorialização - mas olhemos o movimento.
Uma outra alternativa é dizer que não há categoria ontológica para a singularidade. Ela é o que escapa - está no mundo, mas escapa. Esta é a alternativa de Lévinas.
E podemos fazer como em E&E: dizer que a noção mesmo de ontologia tem que acomodar o que escapa, tem que ser não-fascista, tem que ser tal que não haja apenas as categorias ontológicas ainda que elas seja potências e tratem de possibilia. Singular é o que fica solto.

marți, 5 august 2008

mania de explicação (de uma menina que, de tão curiosa, se meteu com a filosofia)

Essa foi só uma tentativa de livrar as potências de uma metafísica da identidade (ou de uma ontologia fascista). Potência não é uma identidade, um princípio totalitário, mas uma promessa que, não obstante, não é. Sozinha, claro que não é suficiente. Falta-lhe a política! Eu não abro mão dos des-locamentos. O "entre", para mim, não é a potência, mas o des-locamento, aquilo que, certa feita, eu disse que não é nem potência nem ato, mas o que destitui a potência da sua promessa e o ato da sua certeza - des-locamento como princípio da des-ordem. Nesse sentido, des-locamento é des-territorialização...
É sempre esse entre que sem dúvida dialoga, constitui e destitui territórios, que me fascina...

(linda a sua postagem sobre essa coisa de linhas de fuga e potência... gosto do diálogo - embate, polêmica - entre os seres)

luni, 4 august 2008

Tinha uma potência no meio do caminho

É no meio do caminho que tinha uma potência - diz uma Lus. O caminho entre o que é e o que não é. Como pensar que isso vai ser suficiente para escapar de uma metafísica da identidade? Podemos dizer que (na veia que dirige a suspeita a uma ontologia das resistências que pode acabar sendo uma teoria do fardo) apenas mudamos a tonalidade dos entes; podemos entender modalidade em termos de tonalidade e apenas deslocamos a melodia do atual para o possível. Apenas isso basta? Acho que não. Seria preciso um pouco mais - pelo menos uma atitude a mais.
Gosto de falar do meio do caminho porque não acho que podemos ir muito longe se descartarmos aquilo que promove os esbarrões. Gosto deles.

Linhas de fuga: o caráter holista das potências

Ainda no meio da Seoul enorme porém já depois de falar sobre ontologia do descabido para uma audiência quase toda russa - frustrante, esquisito mas exótico e extemporâneo - vou tentar voltar ao tema da última postagem: resistências vs exceções. Uma ontologia da anomalia postula que as singularidades são exceções e todas exceção é uma exceção a alguma coisa. Uma linha de fuga. Ou seja, as anomalias são a base do caráter não-fascista da ontologia: elas são um repositório de poderes que podem ser entendidos como resistências e capacidades. As singularidades resistem e, assim, a anomalia (o descabido) desterritorializa - é o agente desterritorializador. Não existe singularidade que não é exceção - todas estão in media res - mas é isso que lhes dá condição de desviar de alguma coisa. Ela é o desvio. Pensada assim, a singularidade não é nem apenas um fardo de propriedades - porque ela é uma exceção, uma anomalida e não tem cabimento - e nem apela para um substrato indescritível porque ela é uma linha de fuga, uma direção de desterritorialização.
Agora, quando imprimimos uma ontologia das potências sobre uma ontologia do descabido começamos pensando que a singularidade em fuga (o desvio) é potência. Trata-se de uma resistência e toda resistência é uma resistência a alguma coisa. Mas a ontologia das potências nos tira de uma perspectiva preciosa que alcançamos através da ontologia do descabido: ela nos recoloca às voltas com alguma coisa parecida com o que McDowell uma vez chamou de "a sideways-on view", ou seja, uma visão desde fora em que as singularidades em fuga podem ser entendidas em termos de suas potências de resistência (seus potenciais de resistência, talvez). Ou seja, de um ponto de vista da ontologia das potências, a anomalia pode ser vista em termos de que coisas ela PODE resistir - que coisas ela PODE desterritorializar. A introdução da modalidade (das disposições) pode ser claustrofóbica: imaginamos que vamos terminar com uma longa lista de potências (ou resistências) associadas à singularidade desviante - como uma análise condicional da singularidade com um número grande de cláusulas (tipo: se diante de um regime como o da coréia do sul, S resiste; se diante de um regime como o da coréia do norte, S resiste; se diante de um regime heterosexualista , S resiste etc.). Já vemos o problema: não escapamos mais do dilema fardo vs substrata: discriminamos a singularidade em termos de potências (resistências) e ela deixa de ser apenas uma linha de fuga para ser capturada em termos de suas potências - fica dominada (ainda que apenas modalmente dominada). O fardo é completo (supostamente) e apenas por outras razões metafísicas postularíamos um substrato (tipo uma haecceitas da singularidade). Fica parecendo assim: danou-se.
Depois de jarras de cerveja, bibimpags, vermicellis, e chás gelados pelas noites coreanas, eu e o Manuel nos encontramos muitas vezes diante dessa questão: qual é o preço de sobrepor a uma ontologia sem cabimento (onde a potência fica insinuada nas singularidades em fuga) uma ontologia de resistências e capacidades? Será que o preço dessa integração é que ficam as singularidades dominadas? Começamos a repensar os atrativos de uma ontologia de potências pensando talvez que a lua de mel com os poderes acabou (outras luas, de nabo, de arroz, de wasabi, de gimchi, de acelga virão ainda talvez).
Bem, as tais potências são holistas (cheias de intencionalidade física, com singularidades com bracinhos para fora etc). Ou seja, elas dependem de todas as potências que aparecem no mundo. Dizemos assim: qualquer coisa pode ser uma linha de fuga se colocada em um cenário apropriado. Ou seja, não podemos oferecer a tal listona parte de uma análise condicional da singularidade porque cada singularidade tem potências que dependem das demais (e do que acontece no plano de organização). Não se trata de dizer que o fardo de potências de uma singularidade é infinito porque isso logo invoca uma imagem assustadora de alguém que pode contemplar infinitas potências. Mas, para invocar uma distinção clássica, que o fardo de potências é indefinido. Que ele depende de todo o resto do mundo (mônadas, mônadas, mônadas). Depende do que faz corpo com o que. Trata-se, de novo, de um jogo de imãs. Não é que todas as resistências de uma singularidade estão nela, resistências são intencionais. Extrínsecas. O pensamento tenta encontrar ruas e avenidas (não saídas) em meio a estas potências indeterminadas. Desvios requerem o resto do mundo - tudo pode desviar mas nada desvia (ou resiste) sozinho.
Fica parecendo que o que é indeterminado é menos claustrofóbico. Mas será que a manobra de insistir na indeterminação é suficiente para tornar digerível a mistura de ontologia do descabido com ontologia das potências?

duminică, 3 august 2008

Pontências não são...

Um esboço de solução que acabei dizendo em outro momento sem querer: potência é promessa "de" (metafísica da identidade), mas, não obstante, ainda não é (ruptura com a metafísica da identidade). A potência "é" e "não é" ao mesmo tempo. "É" enquanto promessa, possibilidade aberta, mas "não é" enquanto ato, identidade consumada. Ou seja, pode sempre não ser, ou ser outra coisa. Na verdade, potência nem "é" nem "não é", mas é algo indefinido. Isso não nos livra de uma ontologia fascista?

Resistências e singularidades em fuga

Então vamos falar de uma ontologia das resistências. Pensamos a singularidades no estilo Excessos e Exceções. Bem, mas uma singularidade em fuga agora é pensada como uma coleção de resistências. Só isso? Ou a singularidade também tem um substrato - um substrato de resistência?
O velho dilema fardo-substrato voltou.
Vamos começar de novo: pensamos as singularidades em termos de desterritorializadores - portanto em relação a um território. Mas elas são só um fardo de desterritorializações?
Parece que introduzir uma ontologia de potências nos leva de novo a beira de uma ontologia fascista. A Lus diz: não cairemos em uma metafísica da identidade?
Bem, como sair disso: potências são indefinidas.
Ou seja, muito problema e um esboço de solução. Mais sobre isso em breve.