duminică, 15 iunie 2008

Potência de não ser

Em "La comunità che viene", Agamben defende a potência pura, uma "potentia potentiae", ou uma potência de não ser cujo "ato" não consiste na passagem da potência ao ato, mas uma potência que tem a si mesma por objeto. Essa é uma potência que pode a própria impotência. Assim, o ato, enquanto se dá, traz consigo não apenas a consumação da potência, mas a própria impotência. Bartleby, que não pára de escrever, mas prefere não fazê-lo, é a figura emblemática dessa potência que, ao escrever, atua a própria impotência ou potência de não escrever. Portanto, para Agamben, “qualquer” é o ser que pode não ser na sua própria impotência. Assim, a potência de ser é um exercício da potência de não ser: porque posso não ser, sou.

Isso, a meu ver, muda tudo. Talvez consigamos resolver o problema de uma metafísica da identidade ou da presença (e a violência que implica). Sim, porque agora partimos de fato de uma potência que não é substância, enquanto parte do próprio poder não ser ou está em diálogo constante com o poder não ser. Nada está determinado de modo fechado e definitivo, mas o caminho se desenha em diálogo com o que não é – porque posso não ser, sou. É quase como um grito desesperado de sobrevivência, a respiração urgente arrancada à força contra a ameaça do abismo do nada que, de algum modo, nos funda. E porque essa potência não é substância, não só “pode” não ser, mas também não “tem” que ser. Então não temos mais a necessária passagem ao ato. Potência não é mais potência de um ato, mas potência pode ser impotência. Potências assim compreendidas, que não precisam passar ao ato e que, quando se dá o ato, se afirmam até mesmo como a negação (não o aniquilamento!) ou o vazio do ato (talvez, em verdade, uma contraparte, como o negativo de uma fotografia), talvez sejam potências que abrem o espaço para a consideração de um princípio de individuação (que nos livra de uma ontologia humeana) não metafísico (também nos livra de uma metafísica da identidade). Esse me parece um caminho fecundo para o pensamento... Mas ainda preciso pensar mais.

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