vineri, 6 martie 2009

Fragmentos de 206 a 215

206. Ter destinos não é ainda projetar futuros, ou ter esperanças. Tudo está cheio de destinos de tornar-se diferentes coisas – mas esses devires são futuros do presente. O polemos é feito da culatra; dos tiros que escapam para outra parte. Projetamos futuros quando estagnamos alguma coisa para que alguma caravana passe. Arrumamos a casa. E eu já vi que as pipetas dos laboratórios também trincam quando há terremotos.

207. Eros é eris, eris é polemos. Eris nao é só combate, é disponibilidade – a compulsão a tornar partes de si disponíveis. Disponíveis: a força centrífuga que que impele a fragmentação das partes que estão coladas; uma força que pode ter a mesma intensidade e aceleração que a força centrípeta de coesão – a tensão do connatus. A força de fragmentação tem a direção oposta e raramente tem a mesma velocidade. Muitas vezes não vemos a ação do ímpeto de fragmentar porque procuramos ingredientes no mundo. Os ingredientes são peças que não se fragmentam e que apenas compõem. O mundo não é feito de ingredientes – é jogo de armar que nunca está armado e nunca está em pedaços. [Tudo se] desintegra, desinfla, solta ares.

208. Eris é a força de desindividualização: colocar-se a disposição. Wesendammerung. Os modernos, tão encantados com a idéia de autoridade integral, preferem olhar para as partes conscientes que são as que submetem outras e procura retê-las submissas. Dizem: meu corpo está a minha disposição. Os corpos sempre estão a disposição, mas as disposições não tem dono.

209. Encontrei uma sábia mulher, a mãe de Lautréamont: nunca ria dos uivos dos cães, eles querem o infinito, como todos os humanos de cara achatada – apenas olhe para você mesmo neles. [Seu filho] dizia [...] que as sombras passeiam nos campos amarelos nos fins de tarde, contra os campos, contra as montanhas, contra a coruja, contra as crepúsculo, a lua e as estrelas; o infinito é uma ânsia contrária as coisas, contrária aos limites das coisas – mas é uma ânsia: uma ânsia de espalhamento.

210. Tudo se conecta a tudo – mas não há tudo.

211. Há algo de terrível nas fronteiras da consistência e do caos, algo que não se experimenta impunemente, sem que o próprio corpo seja escarificado pela dispersão de suas formas.

212. As fronteiras são o ponto final da guerra – e são território, contornam entidades, exercem o ser. O ser não pode mais do que um cessar-fogo. E as fronteiras são também a espuma que faz de toda physis um berço de política.

213. [Dizem, Alguém diz] que as palavras são preconceitos. Também as coisas são engajamentos de uma política das linhas que se enroscam umas nas outras e transporta os fatos de um estado de coisas no contorcionismo do acontecimento. O que acontece se manifesta, arregimenta intensidade para uma cartografia de pedaços de physis.

214. Não despreze as capacidades dos que fogem. Nem pense que os catálogos ontológicos são muito mais do que leis que bancam a polícia. A natureza é cheia de fugas, de extrapolações, caminhos tortuosos. A ontologia deveria ser feita pelas patrulhas de reconhecimento da linha de frente [...] das batalhas. A cada dia um mapa-mundi.

215. A política ama esconder-se em moitas de natureza. Natureza não é physis, natureza é moita, physis é vendaval.

Un comentariu:

differance spunea...

estão lindos, lindos! amei de verdade...