joi, 29 ianuarie 2009

fragmentos de Heráclito inspirados em uma conversa com amigos queridos (como de costume)

184.[...] singularidades são bolhas de sabão. Bolhas vindas do fogo? Sim, exatamente isso.

185. As velocidades deixam cada coisa no seu lugar tirando cada coisa do seu lugar.

186. Ah, as velocidades despóticas!

187. Des-locamentos são o acontecimento do ser. Mas não há nada que parta ou que fique ou ainda que de algum modo retorne. Há apenas um emaranhado de intensidades em transe [velocidades].

188. Alguém já se deu conta das velocidades de um corpo? O corpo queima, arrepia, arde, cheira, molha, sua, treme...

189. Corpo e pensamento são um.

190. Singularidades são o oco [do que há]. Um oco que flui, como um rio de vento.

191. O vento espalha o fogo, desfaz o fogo, refaz o fogo, leva o fogo daqui para depois. O fogo, por sua vez, resiste, desfaz-se, finge não estar mais e retorna surpreendentemente. O fogo está para o vento como o polemos está para a singularidade (e vice-versa). Fogo e vento são um?

192. [...] varridas derramadas ao acaso: um turbilhão de velocidades polêmicas.

193. Certa feita um amigo me despertou de um sono profundo: “repara bem, Heráclito” – disse ele – “o barulho do rio depende de você [dentro dele] resistir com a sua prepotência ereta. Mas experimente o seguinte: deite-se em suas águas turvas. Tire os seus pés do chão e, então, à deriva, entregue-se ao transe dos que flutuam. Enfim deixe-se levar pelo seu fluxo incerto sem qualquer receio que sugira algum ponto de resistência ainda que discreta. E agora? Há algum som?”

194. O corpo ereto e o fluxo do rio são diferenças de velocidades. [...] então descobri, atônito, que os acontecimentos (como o som de um rio) nada mais são do que o embate entre velocidades distintas.

195. Dis-posições são velocidades que diferem.

196. [...] das diferenças, as coisas (por sua vez, sempre diferentes também para si mesmas).

197. Com que alegria pude, enfim, encontrar Deleuze. Ele bem entendeu que a diferença não precisa ser um âmbito negativo que se opõe a uma identidade. As coisas são o acontecimento das diferenças. Diferenças que não são arché - quem pode deter a diferença sem corrompê-la?

198. An-arché: não-princípio, mas também não-negação-do-princípio. Um “entre”: ponte sem margens.

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