vineri, 25 iulie 2008

Somos todas Pippa Bacca: potência é risco


A vulnerabilidade é estado de abertura. Haver disposição. Deixar que fiquem as potências disponíveis.
Um pouco do meu devir Pippa Bacca em Istambul, 15 de julho. No papel: somos todas Pippa Bacca.

luni, 21 iulie 2008

Por um Nietzsche não humeano

Gostaria de poder defender algo assim: não importa a coisa, mas o fluxo. Não queremos verdades para capturar e controlar (“tirem-me daqui a metafísica!”). Não importa se há mentiras sobrepostas sobre o mundo, importa que dancem, que façam fluxo (política!). Nietzsche talvez não seja humeano. Talvez não negue a verdade, mas a compreenda de outro modo. Verdade é outra coisa, diferente de um fato constatável, diferente de certeza epistemológica (ou mesmo existencial). Verdade é interpretação. Subjetivismo? Não, interpretação! Leitura possível "da coisa", perspectiva, individuação de um caminho na multiplicidade de possibilidades (mas ninguém inventa a coisa ou a multiplicidade!). As coisas estão aí, mas não como verdades engessadas.
Heidegger tem uma compreensão bonita da verdade que ele tira dos gregos: alétheia, onde o “a” privativo traz o sentido de não-esquecimento, não-velamento. Todavia, abarca o próprio velamento como um momento seu, um momento que acontece junto. Então, temos o seguinte: um jogo inconcluso de luz e sombra, algo que tocamos e perdemos, velamento e desvelamento contínuos. Ganhamos e perdemos o ser incessantemente!
Uma verdade assim compreendida não importa apreender ou controlar. Não importa a coisa, mas o jogo. E se esse jogo for transformador para o nosso tempo, essa é a nossa política. Porque verdade é possibilidade e não fato. Verdade é jogo. Não falamos de subjetivismo nem de arbitrariedade. Inspirados por Aristóteles, diríamos que é algo mais ou menos assim: “o ser se diz de muitos modos”. Então, julguemos as narrativas pelos efeitos de solidariedade! (e por que não?)

Como escapar do fantasma metafísico que nos diz que podemos encontrar o fundamento último (ou primeiro), conhecer (capturar) e manipular o real? Como bem nos ensinou Lévinas, aqui está a origem de muita violência...

duminică, 20 iulie 2008

Nietzsche Humeano?

Categorias são mentiras, quando são poemas são francas. Rorty diz que as narrativas devem ser julgadas pelos efeitos de solidariedade. Nietzsche pensa que a verdade não é captura, é sinceridade no processo de deixar o que não pode ser Begriff escapar. O múltiplo não pode senão ser falsificado pela linguagem - desconfie dela enquanto a usa (enquanto a usa!). Ele gostava de aspas. Rorty gostava de aspas.
Como escapar do fantasma ontológico de Hume (e de Kant) que nos diz que há mentira sobrepostas sobre o mundo?

sâmbătă, 19 iulie 2008

Elogio da Vertigem (acho que IV, já perdi a conta...)

"Então o que sou é o que digo?
Não há nada por trás desta voz?
Então não há ninguém comigo
quando eu e ela estamos sós?

Dá uma vertigem, uma pontada
um pouquinho abaixo do umbigo,
por dez segundos, e mais nada."

(Paulo Henriques Britto, Cinco Sonetos Trágicos, II)

Sobre deslocamentos, atos e potências (sobre diferenças)

Potências são possibilidades de. Atos são o “de” consumado, afirmação, categoria, consumação da potência. Uma saída política: potência pura, potência sem ato, potência que não se decide. Eu costumo pegar outro atalho.

Quando falo de deslocamentos não falo de ato. Falo do “entre” ato e potência. Também não falo da “passagem” da potência ao ato, mas de algo que destitui potência e ato, portanto, não de uma passagem, mas de algo que “está de passagem”. Potência também é metafísica da identidade, algo que pode ser “assim” (e, não obstante, não é, e é isso, ao mesmo tempo, que pode romper com a metafísica da identidade). O deslocamento como o “entre”, o “trânsito” (não de um para outro, mas como algo que está de passagem) não fixa nenhuma identidade. É aquilo que salva a potência da sua identidade de potência e o ato da sua identidade de ato, pois, quando pensamos em deslocamentos, nem ato nem potência são mais. Não negamos os pingos nos is. As macropolíticas estão por todos os lados. Mas as micropolíticas (os pequenos deslocamentos) é que são transformadoras. Portanto, potência e ato precisam fracassar. Os deslocamentos destituem as potências das suas promessas (as transformam em outra coisa) e os atos das suas certezas (as transformam em outra coisa). (nunca importa qual coisa, mas a transformação). Os deslocamentos transformam tudo.

Claro, a potência (dýnamis) está cheia de movimento. Ou melhor, está cheia de promessa de movimento ou “prenhe de possibilia”. A potência está prenhe de promessa. Os deslocamentos (moribundos que são, pois não têm em si nem uma potênciazinha para nos consolar), não prometem nada (seriam os deslocamentos mendigos ontológicos?). Ao contrário do que se poderia supor, os deslocamentos não realizam nada. Os deslocamentos são a ruptura com qualquer ordem dada (estão à margem, esses sem-casa!).

O único ponto que importa é este: o des-locamento é o princípio da des-ordem. Nem ato , nem promessa do ato, mas aquilo que disturba. Promessa e ato estão aí, mas isso não é o que importa (às macropolíticas opomos a micropolítica dos pequenos deslocamentos). Não negamos as categorias, os preconceitos, mas o fluxo é que é político. Então, viva Heráclito! (até que alguma lus hilantrófica caia sobre as nossas cabeças e – talvez não sem razão – venha inaugurar novamente as potências como um antídoto ao hum(e)anismo).

PS: sua última postagem esclareceu muita coisa. como você fez isso, de escrever sem pingos? Caraca, deslocamento puro...

joi, 17 iulie 2008

Dıfference et Dıfferance (avec une petıte dısaparıtıon)

Mıchel Haar tambem ınterpreta (e daquı de Troıa, onde estou fılmando um solo da Cassandra F. Borges sem cavalo, fıca facıl nem colocar os pıngos nos is) a vontade de potêncıa em termos de ato que nem chega. A vıda fıca pelo movımento de se aprontar. Potencıa sem ato, o ato nem ımporta mas ımporta a pulsao que nao vıra categorıa. O fluxo sıgnıfıca que nada termına e que somos ınacabados em um mundo em preparacao. Exıste, claro, um parentesco entre dısposıcoes, fluxos e imanêncıa (uma palavra na qual da gosto nem colocar todos os pıngos nos is - afınal trata-se de uma palavra bombastıca e errorısta).
E meu problema com o hum(e)anısmo quanto as categorıas pode ser servıdo assım: qual o papel dos dısposıtıvos que colocam os pıngos nos is em meıo a estas potêncıas, a estas ımanêncıas). Eu amo a ıdeıa matreıra de D&G (Dolce & Gabbana) de uma ıntersecşao de planos. O hum(e)anısmo aparece assım: e qual o estatuto do plano de transcendencıa dıante do plano de composıcao. Aquı e onde mınha ımagınacao ontologıca me abandona e eu fıco dando voltınhas em torno do Davıd e do Immanuel ao ınves de enfıar todo o cerebelo na ıdeıa de que o que ınteressa e o meıo. Trata-se de uma obsessao. As vezes penso assım, com meu conceıtınho novo de estımacao: os dısposıtıvos de ceterıs parıbus sao parte do mundo, tanto quanto o fluxo. Preconceıtos fazem fluxo, eu penso quando me aparece uma lus ou duas na cabeşa. Mas quando o holofote se apaga eu penso se Heraclıto afınal acertou.
Por outro lado, quem ama potêncıa nao ama ataraxıa.

luni, 14 iulie 2008

Torre de Babel

Entendi pouco, muito pouco. Acho que penso mais em termos de agenciamentos, deslocamentos, possibilidades, desconstrução de metafísicas de identidade... Algumas coisas me são estranhas, como a idéia de categoria que, pela minha influência heideggeriana, prefiro abandonar (mas, muito provavelmente, não estamos nem falando da mesma coisa...). Outra coisa estranha: potência sem ato. Aliás, que de algum modo, Agamben defende e que eu não entendo de jeito nenhum. E outra ainda: “potências”. Eu comecei a aceitá-las muito devagar, a partir das nossas discussões, mas não sei se na verdade não as transformo no que quero ou se não preferia pensar sem elas... Tem algo que acontece comigo que é o que precisa acontecer (para mim) e que não tem medo de Hume, talvez porque (quem sabe ingenuamente) não se identifique com ele. É sempre outra coisa. Mas gosto muito disso: “A política está aqui, focar em um pequeno deslocamento diante do fluxo. Qual categoria? Toda palavra é um preconceito contra o fluxo. Mas preconceitos fazem fluxo.” É isso! Gosto muito, muito, muito disso.

OS: desculpe essa postagem quase desesperada... (acho que é só uma crise passageira)

Categorias é que são disposições

Há uma longa tradição de buscar uma analise condicional das disposições em termos de condicionais; herdeira da fórmula de Carnap no Aufbau: x é solúvel sse colocado em água dissolve. Carnap entendia o sse de uma maneira clássica e vivia numa era pre-kripkeana (antes que a filosofia analítica encontrasse uma reconciliação com a modalidade). Carnap logo desistiu. Depois que os contrafactuais entraram em cena, a idéia era encontrar uma maneira que funcionasse para definir disposições em termos de categorias de uma maneira condicional. Muita gente desesperou desse projeto: o que acontece quando uma potência está lá sem ato? A análise condicional faz parecer que potências não podem ser atuais.
Mas, e um reverso da análise condicional? Entender categorias em termos de disposições, ou para mostrar que elas são projeções ou que elas são o mesmo que disposições.
Um projeto. Se o reverso da análise condicional é possível, então podemos tornar possível uma espécie de humeanismo ao contrário - ou um kantianismo as avessas que as vezes me atrai. O mundo é potência - mas há coisas nele que arregimentam categorias.
A política está aqui, focar em um pequeno deslocamento diante do fluxo. Qual categoria? Toda palavra é um preconceito contra o fluxo. Mas preconceitos fazem fluxo.

vineri, 11 iulie 2008

sem título (mas com bracinhos)

“A potência é puro polemos”, mas também é polemos o que se dá “entre” potências. Os agenciamentos são polêmicos. As potências, como puro polemos, poderiam não ser lidas como indeterminações, mas como “pequenos deslocamentos” (eita, olha ele aí de novo! – e quem disse que deslocamentos são indeterminações? deslocamentos podem ser agenciamentos, organizações disposicionais...) que lançam seus bracinhos abanantes no mundo (os bracinhos são deslocamentos) que, por sua vez, com suas mãozinhas também abanantes, polemizam (também consigo) e “entre” si: Política! Potências podem ser vistas como “possibilia” com bracinhos para fora, mas também podem ser vistas assim: potências “são” bracinhos para fora. Não há potência que não diga olá ao mundo, ou melhor, ser potência é dizer olá. (Agamben diz: ser dentro um fora). O nosso habitar é polêmico. O nosso habitar é político. E o que são potências senão mãozinhas abanantes no meio de tudo (confundindo e organizando tudo, e sempre novamente)?

O bonito do polemos é que ele é aquilo que não nos deixa em paz. O polemos não nos deixa ser quem somos, senão provisoriamente e sob conflito. De forma polêmica, somos sempre outro e outro e outro, enquanto somos nós mesmos... (poderíamos também dizer: somos sempre com outro e com outro e com outro...). As relações são outras e novamente outras a partir da inquietude polêmica dos agenciamentos que não se permitem determinar senão provisoriamente.

[não entendi essa coisa de determinação como palavra-chave....???]

(a pergunta, em mim, acontece mais ou menos assim:) Qual é a política e a ontologia de um deslocamento?

Ah sim, claro, toda ontologia é política!

miercuri, 9 iulie 2008

A estrutura e a potência de um Polemos

Prolegômenos. Se a política vier antes, o mundo é feito de indeterminações. Ele está em conflito, não porque já há dois (ou três) lados, porque não há nada estabelecido, não há determinações. Fora isso, há capacidades, faculdades. Há determinações in potentia. Então desembarcamos no meio das coisas: onde há política, porque há política, há ontologia. E é porque a ontologia trata de potências.
Mas pode a potência ser puro polemos?
Pode a potência - as possibilidades de que as coisas estão prenhes - conter ela mesma apenas indeterminações? Tenho escrito que potências são singulares e holistas. O que significa isso? Bem, são holistas porque tem uma intencionalidade física à la Molnar. Molnar a descreve com as características da intencionalidade de Brentano: é direcionada a alguma outra coisa, esta outra coisa pode nem existir, esta outra coisa não é singular mas exemplar e importa o modo de apresentação desta tal outra coisa (Sinne de Frege, opacidade mas coisas muito distintas como uma abelha que não gosta de pólem em pílulas também). Então as potências tem bracinhos para fora - como as velhas esculturas da Louise Bourgeouis (uma delas chamava Sem Título Com Mão e era uma bola de pedra com uma mão saindo dela - assim são as potências).
Mas, como mônadas, também singulares. Como assim? Não é que elas são tropos. É que elas servem para isolar um ítem do mundo no plano das possibilia. Que plano é esse? É o plano das haecceidades. Eu inventei um conceito que eu chamei assim: Dispositivo de Ceteris Paribus. É o DCP, minha abreviação para ficar mais íntimo, que promove o trânsito do plano das possibilia (das potências e das haecceidades) para o plano da organização (onde há, por exemplo, as conexões nômicas). Mas as conexões nômicas são necessidades que precisamos - precisamos do plano de transcedência. Por que? Porque precisamos fixar necessidades para falarmos de potências específicas (uma lição quineana).
Mas isso é suficiente para caracterizar o Polemos? Bem, aqui talvez possamos falar de ontologia polemaica: potências não formam mosaicos (formam esculturas de imãs etc). Alguém pode dizer: não, aí não. Mas sempre apelamos para considerações formais ao mesmo tempo que não queremos nenhuma restrição material. É preciso repensar estas restrições. Como assim? Ando convencido de que a palavra chave é determinação. Qual é a política e a ontologia de uma determinação?

marți, 1 iulie 2008

Projeto paralelo


este é um projeto paralelo que as vezes esbarra com a ontologia das potências. e quando esbarra as vezes cospe na cara, as vezes é xodó:


Propositions as small announcements

Or, the metaphysics of indefinite descriptions

Car si le plan de consistence n’a pour contenu que dês heccéités, il a aussi toute une sémiotique particulère qui lui sert d’expression. [...] Cette sémiotique est surtout composée de noms propres, de verbes à l’infinitif et d’articles ou de pronons indéfinis. [...] Em troisième lieu, l’article et le pronon indéfinis ne sont pas des indetermines [...] ils ne manquent de rien lorsquíls introducent des heccéités, des evenement don’t l’individuation ne passe pas par une forme et ne se fait pas par un sujet. Alors l’indefini se conjugue avec le maximum de determination: il était une fois, on bat un enfant, un cheval tombe… […] C’est pourquoi nous nous étonnons devant les efforts de la psychanalyse qui veut a tout prix que, dernière les indéfinis, il y a un défini cache, un possessif, un personnel: quand l’enfant dit <>, <>, <>, <> […] <>. Petites announces, machines telegraphiques sur le plan de consistence.

Deleuze & Guattari, 1980, p. 322-4

How can an indefinite description – rather than a definite one or, rather, a Russellian proper name[1] - be the best expression in language and thought of a singularity? Other expressions are considered to have the capacity to depict individual objects and bring them to the fore. Russellian proper names, for example, are expressions that allow de re thought about particular objects – where roughly defined borders are available, even when unbeknown to the thinker. The singularity depicted by a name (or definite description in referential use[2], or another expression rigidified[3]) is in some sense inanimate even though it could be animated by properties and relations. What the expression of singularity depicts is often a substratum that is fixed, inanimate and indifferent to its properties.

When singularities are not objects but rather powers or events, another kind of expression could be on demand. Singularities become what happen to things, instead of being bearers of properties and relations (and events) – singular is what happens, not what grounds many happenings. properties and powers are pin to. When we move from an ontology of singular objects to an ontology of singular transitions, we need a suitable change in our expression of singularities – they ought to express that feature of singular free-floating elements.

When discussing the transferability of power tropes, Molnar (2003: 43-44) considers a view he calls non-ownership trope-theory according to which tropes have no bearers – it an ontology of properties with nothing but bundles of properties (and relations). Tropes would be floating in bundles with no substratum to rely on – no grounding object to be underneath whatever happens. Molnar sets this view aside by considering it a version of Platonism: “It allows the existence of properties without bearers just as Platonism allows universals not instantiated in any object.” Such a trope theory is not relevantly akin to Platonism as it postulates no universals and could not conceive of objects bearing them. Non-ownership trope theory is an ontology where singular items are floating powers: a metaphysics of indeterminacy. Indefinite propositions are therefore the basis for a metaphysics of the indefinite, borderless, vague and yet singular.



[1] Cf. Evans (1982: xx)

[2] Cf. Donellan (1966)

[3] Cf. Kaplan (xxxx)